Limiares: Desafios contemporâneos da psicanálise
- Várias autoras
- 31 de jul. de 2024
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Alessandra Affortunati Martins, Aline Souza Martins, Érico Andrade, Léa Silveira e Lívia Santiago Moreira (Org.). Blucher, 2024.

A ferida narcísica da qual a psicanálise vem sofrendo é derivada do apego a seus sintomas de origem: ela advém de um ambiente de imperialismo e extrativismo capitalistas e, enquanto tal, é dotada de um germe colonial pretensamente universalista que promove exclusão, rebaixamento e alienação. Baseando-se em uma epistemologia corporal binária, a psicanálise produz percepções a partir do ponto de vista do homem cis, hétero, branco e europeu.
Se a teoria e a prática analíticas permanecerem fechadas a tais efeitos traumáticos, a morte da psicanálise estaria decretada. Contudo, a compulsão à repetição pode também promover certos deslocamentos capazes de romper com posicionamentos aparentemente enrijecidos de atuação. Para tanto, ela precisa se deixar infiltrar pelos limiares materiais que a circundam: as condições sociopolíticas de raça, classe, gênero e crise ambiental que podem enquadrar diferentemente a política do corpo praticada pela psicanálise.
Este livro convida a psicanálise para uma autorreflexão crítica de seus discursos e práticas que pretende fazer mais do que reformular pontualmente certos conceitos, mas chega a rearticular toda a sua estrutura a ponto de a psicanálise reconhecer-se outra. Tal trilha transgressiva é preponderante para um saber que interpreta de forma ética os sofrimentos e vulnerabilidades de corpos e trajetórias singulares.
Virginia Costa (Profa. Dra. de Filosofia-FFLCH-USP)